segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Morango nosso de cada dia


Todas as imagens com morango são sedutoramente lindas, já repararam? Como são lindos tb aqueles pequenos pontinhos incrustados na superfície da fruta, alguns dizem dourados, eu os enxergo acobreados.
Bom, mas o fato é que recebi uma mensagem sobre morangos. Não chega a ser de auto-ajuda, mas eu a enquadraria no rol das Mensagens Edificantes Relativamente Suportáveis, um ppt que li até o fim, talvez pelas imagens, talvez pela curiosidade de saber no que resultaria o encontro de um morango, um urso e uma onça. Reza a lenda (vou chamar de lenda, pq tem cara de lenda) que um viajante (não se sabe em que época, nem onde), já sentindo o cansaço das suas andanças, caiu num precipício e agarrou-se a uma raiz de árvore. Acima dele havia um urso feroz, rosnando e mostrando os dentes (que dentes!) e abaixo dele, rondando impacientes, onças famintas, prontas para devorá-lo, quando caísse. Uma desgraceira só, pensei: este viajante devia estar tendo seu momento “Órfãos Baudelaire” (Desventuras em Série). Mas... era assim a história. Impossibilitado de tomar qq atitude, de mãos atadas, ou de mãos coladas ao galho, esse sujeito lembra a Carta do Enforcado dos Arcanos Maiores do Tarot (isso é sério, identificar a presença deste impulso em nossas vidas). Entre a cruz e a espada, nosso herói, (estamos torcendo por ele, não é? Ou tem alguém torcendo para o urso?) de repente percebe um lindo morango do seu lado esquerdo. Fiquei a me perguntar se morangos nascem em abismos...em tubos de pvc eu já vi...fruta silvestre que é...se alguém souber...é algo para se pesquisar no Google. Bem, mas então ele ficou maravilhado com sua beleza, seu frescor e num esforço descomunal apoiou-se apenas com a mão direita e com a esquerda, apanhou o morango. Saboreou um pouco mais a fruta com os olhos e depois com a boca, experimentando naquele momento, um prazer supremo. A mensagem é bastante óbvia, mas mesmo assim, deixamos todos os dias morangos mofarem aos nossos pés. Pequenos prazeres ao nosso alcance são desperdiçados. É como se precisássemos eliminar ursos e onças para DEPOIS...Sempre depois...O futuro é uma ilusão que sempre será diferente do que imaginamos. O morango tem que ser processo, não meta. Tão simples assim, nem sempre assim, mas a insistência em adotar essa prática já é quase ela, consciência do presente, do tempo presente, do presente morango de cada dia...

Outro Outono

                          

Ando sem relógio e não marco o tempo,

Mas ele passa e me deixa marcas.

Cada rio da palma da minha mão vai se acentuando

E descreve assim a correnteza do meu destino.

E das minhas estranhas entranhas,

Um estridente despertador, anuncia a cada mês

O filho que ainda não chegou

E o mar que nunca me banhou.

É muito breve, cruéis ponteiros, estranguladores de horas

Poderiam ser quebrados,

Mas sinfonicamente as ondas continuam à quebrar

E alguém curiosamente à me rondar

Esperando, talvez, que eu espaço dê

Para a vida acontecer...