E já são tantas as crianças com armas na mão
Mas explicam que as guerras geram emprego e aumentam a produção
Senhor da Guerra
Ah Viaggio, vc fica tão abandonado né?
É que não dá tempo mesmo...E hj, dia 11/10 quase feriado de Nossa Sra Aparecida, uma tarde gelada, até demais para essa época do ano, estou aqui. As crianças pensam que o feriado do dia 12/10 é pelo Dia das Crianças. Aliás não são só as crianças não, alguns adultos tb. Santuário e shoppings lotados... imagino. Xô, sai... prefiro ir de Santana a Aparecida de joelhos do que ir a uma loja de brinquedos num shopping qq, em véspera de feriado como este. Na basílica paga-se promessas, no shopping, os pecados, todos.
Agora mesmo alguém postou no Facebook um vídeo do Salão da Criança, evento que acontecia nos anos 60/70 no Ibirapuera, em São Paulo. Achei o máximo! E um outro alguém (facebook é meio voyeur, rsrs vc sempre “vê” outras pessoas conversando) comentou que isso era bem mais diversão que os PS3 de hj. Pelo lado nostálgico posso até concordar...afinal me vi lá, no salão, com minha irmã menor berrando de medo dos anõezinhos (eles tinham uma cara muito brava, muito fechada... talvez estivessem cansados) que embarcavam as crianças nuns botes infláveis para dar uma voltinha num túnel encantado qq. Mas certamente as crianças de hj achariam um tédio, um micão. Bom, barquinhos e WIIs, tobogãs e PSs, bate-bags (sim, davam isso prá gente brincar..Inmetro? Não, não conheço) e DSs, bom, tudo isso é muito discutível, deixa para outra postagem.
O que eu queira era falar sobre as coisas que as crianças falam. Li por esses dias Rubem Alves contando que uma garotinha que morava num apartamento na cidade, foi pela primeira vez visitar sua avó que morava num sítio; a avó levou a menina até sua horta e arrancou da terra algumas cenouras que despertaram o comentário da pequena “Que lugar esquisito vc guarda suas cenouras...em casa, nós guardamos na geladeira” Não é fofo?
E todos nós, adultos, já ouvimos e nos deliciamos com alguma pérola parecida. Certa vez alguém numa reunião familiar, jogando conversa fora, comentou algo sobre o casamento da Britney Spears ter durado (apenas) dois dias. Minha filha mais nova, então com 5 anos, me perguntou mais tarde como poderia ser, se os convidados tinham dormido na igreja. E são tantas as emoções das peripécias das minhas filhas que eu poderia ficar aqui relatando as que mais me impressionaram e fizeram rir.
Mas este texto me reportou a minha própria infância. Eu devia ter uns 4/5 anos e viajava com minha avó para o Guarujá, bem no finalzinho da praia das Astúrias, num tempo que não havia asfalto, não havia nem avenida, as casas davam na areia. Numa noite eu perguntei a minha avó se "o moço desligava as ondas do mar". Minha vó disse que não, que elas continuavam a quebrar na praia, sem parar, até o amanhecer e que a natureza fazia isso. Lembro de ter ficado inconformada com essa resposta, de achar um desperdício ondas quebrando “prá sempre” sem ninguém para brincar a noite na praia... onda era para brincar. Imaginava que “gastava”. Nesse tempo não existiam ondas artificiais, não no Brasil.
E lembro tb das outras crianças, aquelas. Rubem conta no mesmo texto que ao voltar para casa certa noite, parou no farol e dois meninos com semblantes tristes vendiam balas de goma; ele teve vontade de levá-los com ele, cuidar deles, etc... mas não o fez, o farol abriu, ele acelerou, mas os meninos continuam com ele. O mesmo acontece comigo qdo volto da Casa Transitória (abrigo infantil) da minha cidade. Pelo menos um vem comigo...ou então uma parte de mim fica lá.
Sobre essas crianças, que há prá se dizer? Essas, as do farol, do abrigo, das armas, das drogas, dos abusos, do abandono, essas do sem-tudo... Elas tb brincam (ao menos desejam), tb sabem pensar coisas espirituosas, tb sabem falar coisas inusitadas, engraçadas...ninguém ouve...