segunda-feira, 28 de maio de 2012
sábado, 20 de novembro de 2010
Um dia de Finados
Ontem bem cedo, eu saí do mundinho e fui para o mundão visitar o túmulo da minha família, onde estão sepultados os corpos de meus pais.
Contemplando toda aquela Arquitetura Funerária (não lembro de ter tido esta matéria), me peguei pensando na vida...ali... e me veio a mente este texto, lido há muito tempo. Hj, eu achei:
“Desde a idade dos seis anos eu tinha mania de desenhar a forma dos objetos. Por volta dos cinqüenta havia publicado uma infinidade de desenhos, mas tudo que produzi antes dos sessenta não deve ser levado em conta. Aos setenta e três compreendi mais ou menos a estrutura da verdadeira natureza, as plantas, as árvores, os pássaros, os peixes e os insetos. Em conseqüência, aos oitenta terei feito ainda mais progresso. Aos noventa penetrarei no mistério das coisas; aos cem, terei decididamente chegado a um grau de maravilhamento – e quando eu tiver cento e dez anos, para mim, seja um ponto ou uma linha, tudo será vivo.”
Katsushika Hokusai, sécs 18-19
Foto: Gadelha
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Dia das Crianças
E já são tantas as crianças com armas na mão
Mas explicam que as guerras geram emprego e aumentam a produção
Senhor da Guerra
Ah Viaggio, vc fica tão abandonado né?
É que não dá tempo mesmo...E hj, dia 11/10 quase feriado de Nossa Sra Aparecida, uma tarde gelada, até demais para essa época do ano, estou aqui. As crianças pensam que o feriado do dia 12/10 é pelo Dia das Crianças. Aliás não são só as crianças não, alguns adultos tb. Santuário e shoppings lotados... imagino. Xô, sai... prefiro ir de Santana a Aparecida de joelhos do que ir a uma loja de brinquedos num shopping qq, em véspera de feriado como este. Na basílica paga-se promessas, no shopping, os pecados, todos.
Agora mesmo alguém postou no Facebook um vídeo do Salão da Criança, evento que acontecia nos anos 60/70 no Ibirapuera, em São Paulo. Achei o máximo! E um outro alguém (facebook é meio voyeur, rsrs vc sempre “vê” outras pessoas conversando) comentou que isso era bem mais diversão que os PS3 de hj. Pelo lado nostálgico posso até concordar...afinal me vi lá, no salão, com minha irmã menor berrando de medo dos anõezinhos (eles tinham uma cara muito brava, muito fechada... talvez estivessem cansados) que embarcavam as crianças nuns botes infláveis para dar uma voltinha num túnel encantado qq. Mas certamente as crianças de hj achariam um tédio, um micão. Bom, barquinhos e WIIs, tobogãs e PSs, bate-bags (sim, davam isso prá gente brincar..Inmetro? Não, não conheço) e DSs, bom, tudo isso é muito discutível, deixa para outra postagem.
O que eu queira era falar sobre as coisas que as crianças falam. Li por esses dias Rubem Alves contando que uma garotinha que morava num apartamento na cidade, foi pela primeira vez visitar sua avó que morava num sítio; a avó levou a menina até sua horta e arrancou da terra algumas cenouras que despertaram o comentário da pequena “Que lugar esquisito vc guarda suas cenouras...em casa, nós guardamos na geladeira” Não é fofo?
E todos nós, adultos, já ouvimos e nos deliciamos com alguma pérola parecida. Certa vez alguém numa reunião familiar, jogando conversa fora, comentou algo sobre o casamento da Britney Spears ter durado (apenas) dois dias. Minha filha mais nova, então com 5 anos, me perguntou mais tarde como poderia ser, se os convidados tinham dormido na igreja. E são tantas as emoções das peripécias das minhas filhas que eu poderia ficar aqui relatando as que mais me impressionaram e fizeram rir.
Mas este texto me reportou a minha própria infância. Eu devia ter uns 4/5 anos e viajava com minha avó para o Guarujá, bem no finalzinho da praia das Astúrias, num tempo que não havia asfalto, não havia nem avenida, as casas davam na areia. Numa noite eu perguntei a minha avó se "o moço desligava as ondas do mar". Minha vó disse que não, que elas continuavam a quebrar na praia, sem parar, até o amanhecer e que a natureza fazia isso. Lembro de ter ficado inconformada com essa resposta, de achar um desperdício ondas quebrando “prá sempre” sem ninguém para brincar a noite na praia... onda era para brincar. Imaginava que “gastava”. Nesse tempo não existiam ondas artificiais, não no Brasil.
E lembro tb das outras crianças, aquelas. Rubem conta no mesmo texto que ao voltar para casa certa noite, parou no farol e dois meninos com semblantes tristes vendiam balas de goma; ele teve vontade de levá-los com ele, cuidar deles, etc... mas não o fez, o farol abriu, ele acelerou, mas os meninos continuam com ele. O mesmo acontece comigo qdo volto da Casa Transitória (abrigo infantil) da minha cidade. Pelo menos um vem comigo...ou então uma parte de mim fica lá.
Sobre essas crianças, que há prá se dizer? Essas, as do farol, do abrigo, das armas, das drogas, dos abusos, do abandono, essas do sem-tudo... Elas tb brincam (ao menos desejam), tb sabem pensar coisas espirituosas, tb sabem falar coisas inusitadas, engraçadas...ninguém ouve...
sábado, 2 de outubro de 2010
De Bico Bem Calado
Que delícia, acordar de leve, lembrar que é domingo, sorrir, esticar o corpo, virar para outro lado e voltar a dormir... Cochilo mais um tempinho e sem esforço nenhum, noto que alguém ligou a TV...rodou todos os canais umas duas vezes pelo menos (homem vive sem controle remoto?). Entre uma pescada e outra, qdo dei por mim... era um desses filminhos que vc começa assistir e vai, vai, vai, quase sem querer...vc vai ficando.
Uma sinopse: se passa numa pequena aldeia, Little Wallop na Inglaterra, perto do mar, nos dia de hoje. É sobre um pastor muito dedicado e correto (é o mesmo ator de Mr Bean, e pode acreditar: ele fazendo papel sério chega ser quase tão engraçado qto seu papel engraçado). Ele e sua família estão atravessando uma fase daquelas: o pastor se entrega exageradamente aos seus deveres da Igreja e sua devoção para com o Senhor, não sobrando assim, tempo e energia para sua ardente esposa, que por sua vez, se entrega não menos exageradamente, ao senhorito seu amante, na pele de Patrick Swayze ainda nos bons tempos (sacanagem ter Mr Bean como marido e Swayze como amante, isso deve aumentar ainda mais a culpa da pobre moça). Eles planejam viajar para o México, e no decorrer do filme ele se revela um baita cafajeste. Como se não bastasse essa “doooor de cabeça”, o pastor ainda conta com uma filha adolescente ninfomaníaca, daquelas que transam dentro de uma Kombi, na porta de casa, domingo de manhã, com o quarto ou quinto garoto no espaço de 3 ou 4 semanas que é o tempo que se passa a história. Penso que para uma mãe, o delito mais grave dessa parte é...vejamos... a Kombi. Bom, isso não importa. Bem ativa a menina né. E temos ainda o filho menor, que sofre um leve bullying na escola.Até ai, o caro leitor deve ter notado que a última coisa que encontrará aqui, são filmes-cabeça, daqueles que ninguém entende p nenhuma (nem curte), mas para ser diferente, faz cara de conteúdo, e diz que adora... ah e que “vê” coisas que ninguém vê...
Continuando a saga do pastor, ele passa os dias muito preocupado, preparando um discurso que deve apresentar em breve em uma convenção da Igreja, e que a julgar pelo número de fiéis que ele vem perdendo em seus sermões, deverá ser um desastre. Os Goodfelow ainda têm que driblar uma vizinha fofoqueira e carola que persegue o pastor com assuntos menores da Igreja, como o Comitê de Arranjos Florais (Não sabiam que existe um comitê para isso? Eu tb não) e tb o vizinho rabugento, que coloca seu cão para fora de casa toda noite, fazendo com que ele lata a noite toda sem parar.
Contudo, uma nova governanta chega a casa dos Goodfelow; uma ex-presidiária, libertada há um mês, depois de ter cumprido pena durante 35 anos pelo assassinato de seu marido infiel.
E as coisas começam a mudar. Ela passa a ser o anjo da guarda da casa. A tudo dá jeito, um alívio imediato. (A Grace, esse é o nome dela, é meu sonho de “consumo”, sempre sonhei ter alguém assim em casa). Porém, ela resolve as coisas de um modo muito peculiar, nada convencional: elimina um a um, todos que atrapalham o sossego e bem estar da família. Entenda-se por eliminar, executar mesmo, matar. Somente no final do filme é revelado o pq de tanta dedicação: no passado, qdo Grace foi presa, estava grávida de uma menina, que é a esposa do pastor, então.
Os dias passam e a vida “melhora”. É um humor negro e refinado; uma comédia, com fundo dramático...trágico. Lembra “Uma Loucura de Casamento”.
O pastor finalmente entende que falta um pouco de humor e leveza em seu sermão e consegue elaborar um discurso que viria a ser um sucesso na convenção. Se propõe a discursar então sobre os Mistérios de Deus. Ele dizia mais ou menos o seguinte: “nas adversidades da vida, algumas situações requerem que se faça algo efetivamente, que se solucione o problema, que se tome decisões, atitudes. No entanto, outras situações necessitam de um pouco da graça de Deus...” E ele repete pausada e calmamente “da Graça de Deus”, como que lembrando dos “milagres” operados pela governanta Grace. Parece que só aí ele se dá conta das transformações e bênçãos que ela trouxe a ele e sua família. E em estado de graça, ele termina seu discurso. Ora, viajei demais ou tem aí uma piadinha? Um pastor bom e fervoroso agradecendo na sua fé, ao seu Deus a obra do suposto anjo (caído) da guarda que foi enviado para consertar sua vida. Sem saber, ele compactua com o mal por ele tão repelido, ele abriga, dá gloria a Deus a uma mulher que exterminou nada menos que 3 pessoas e um cachorro, corrompendo ainda sua mulher e sua filha, que sendo respectivamente filha e neta da governanta, não só compactuam com seus crimes, como tb aprendem direitinho “como fazer”.
Li em algum lugar que talvez isso se reportasse a fragilidade da linha que separa o bem do mal, como é tênue, sutil o limite entre certo e errado. Sei não, só se se prevaleceram de uma forma beeeem caricata para expor esse lado, pq não me parece haver nada de sutil em se estar morto ou não, em se matar ou não... nada tênue...rs
Mas é certo que é uma piada (uma provocação, uma ironia talvez), como é certo que o modus operandi da Grace tb não é o “certo”. Sobretudo não há aí intenções morais, não há condenações, não há culpa...muitas viagens podem surgir daí... cada um pensa o que quiser: budistas poderiam associar a graça de Deus a não-ação, quem sabe... os melindrosos diriam “desconfie qdo as coisas vão bem”... e por aí vai...Em se tratando de religião, muitos caminhos são possíveis... até mesmo perceber como Deus, seja ele qual for, é um só.
O que impressiona, o ponto forte ou a “mensagem” única (apesar de serem possíveis outras conotações...destino, sorte...) fica por conta mesmo do discurso, não por ele em si, mas pelo significado, pelo alcance. As pessoas têm vergonha de falar de Deus (a menos que seja o “Deus” do momento, da moda, semi-deuses inventados, se revestem de ícones, corpos e casas, anunciam sua crença, proclamam teorias... acho tudo muito duvidoso...) É preciso coragem para falar de Deus; não falo de religiões ou igrejas, falo do sentimento de Deus (único) e de como opera sua graça. Deus nos dá asas, religiões, gaiolas.
Assinar:
Postagens (Atom)